Belém e o Multiverso dos Vilões – Por Bruno Euller
Montagem teatral: "A Noite dos Vilões"
Montagem:
Caixa
de Teatro
Bruno Euller Marlon Costa Oliveira[1]
Faltando poucos dias para o Halloween, decido ir prestigiar uma montagem com tal temática preparada pela Caixa de Teatro, "A Noite dos Vilões". Uma grande reunião de diversos "protagonistas do mal" do cinema mundial, muito lembrados nesse período de gostosuras ou travessuras. A obra apresenta clássicos como: Samara de "O Chamado", A Freira, GhostFace de "Pânico", Jigsaw de "Jogos mortais", Regan Macneil de "O Exorcista", Pennywise de "It a Coisa", Jason Voorhees de "Sexta-feira 13", Besouro suco de "Os Fantasmas Se Divertem", Annabelle, Freddy Krueger de "A hora do pesadelo", Esther de "A órfã", Billy Butcherson e as Irmãs Sanderson de "Abracadabra", Tiffany, Chucky e o mordomo (que na maior parte do espetáculo conduz a trama).
É importante frisar que a narrativa não foca especificamente nas histórias de cada personagem. Logo, ter o conhecimento mínimo de alguns destes clássicos torna a experiência mais completa. Mas não os conhecer completamente também me proporcionou uma grande satisfação de assistir, tendo em vista que a obra é um misto de terror e muita, muita comédia, que aborda uma reunião destes grandes vilões unidos por um mesmo propósito... Mas logo chegaremos lá.
No acesso ao Teatro já me deparo com a cenografia, que se dá por uma ambientação temática de trevas por todo o espaço, trazendo esse teletransporte pra cidade do "Halloween" ou seria a viagem do Halloween para Belém? Pois o espetáculo logo nos seus primeiros instantes já nos apresenta as irmãs Sanderson que acabam de chegar na cidade das mangueiras e resolvem fazer um grande feitiço para voltar pra casa. Logo elas conhecem Chucky e Tiffany que estavam a utilizar a vilã de "a Órfã", também, para realizar um feitiço que não teve sucesso, e que com a chegada das bruxas esquecem seu plano e as apresentam para seu mordomo. O simpático rapaz fica sabendo que as irmãs desejam voltar parar a casa e precisam de algumas componentes para seu feitiço e já que o mordomo conhece inúmeros vilões que podem colaborar com o feitiço, resolve se juntar a elas. Além disso no palco temos uma mesa com diversos elementos de terror, como também objetos que retratam o que está preste a acontecer um jantar, pratos, taças, algo que indica ser o prato principal, etc. E no outro lado um poço na qual as bruxas se apropriam para realizar sua magia.
Durante a narrativa, as irmãs Sanderson precisam de alguns itens para seu feitiço, como uma unha podre, sombras sombrias, algo relacionado a pesadelos, entre outros. E é por meio dessas necessidades que o mordomo trás a cena cada um dos vilões como, por exemplo: a unha podre utilizada no feitiço é a de Samara; quando um dos ingredientes envolve pesadelos, chamam o Freddie Krueger, e assim elas vão conseguindo cada um dos itens. Mas vale destacar que a entrada de cada personagem é marcada por um ponto cómico ou também referências regionais. Como, por exemplo, quando recebem Samara, uma das bruxas recomenda a ela o uso de "canela de velho", remédio conhecido pela região paraense, tendo em vista que a personagem anda com os pés e com as mãos, rastejando pelo chão com a coluna completamente inclinada pra frente se queixando de dores; como também quando encontram o vilão de "O Pânico", que depois de ser insultado por umas das Sanderson, decide ir embora para a ilha de Cotijuba.
Outro ponto marcante é quando solicitam um item do feitiço relacionado ás sombras e escuridão, e a personagem ideal é a freira, que chega ao palco acompanhada de uma sonoplastia assustadora e com um andar lento e olhar fulminante, mas que logo se quebra quando ouve-se a música "Apaga a luz Apaga tudo", acompanhada da coreografia viral do Tik Tok, fazendo menção ao item solicitado; ou quando entra em cena o personagem Jason, e é falado o seu filme de origem que é a sexta feira 13, e junto ao 13 o mordomo faz um L com suas mãos, trazendo referência ao atual cenário político brasileiro.
Temos também cenas marcadas por coreografias conhecidas como Thriller de Michael Jackson, na qual inúmeros Zumbis entram em cena, e em seguida dançam Everybody dos Backstreet Boys e uma outra canção com o personagem Besouro Azul que acredito ser do seu filme de origem, mas que desconheço por nunca ter assistido tal obra. A expressão corporal dos artistas também é bem trabalhada nas coreografias, com cada um dançando fielmente com o corpo de sua persona.
O espetáculo se encerra depois que as Bruxas conseguem todos os itens do feitiço reunindo todos os vilões num belo jantar, composto por um "frango do líder" e um bolo de "10". Acho incrível a quantidade de referências feitas a cidade, mas confesso que desde o início estas menções me atiçaram o desejo de ver algum "vilão" / figura mitológica da cidade junto a cena, acredito que essa alusão a Belém poderia ter ido um pouco mais além, agregando um pouco do imaginário. Mas mesmo sem essa escolha, a obra rende muitas risadas e entretenimento, e com escolhas de cena cabíveis para o público alvo, já que mesmo se tratando de vilões de filme de terror, agrega um teor cômico ideal para o público juvenil. Essa ideia de reunir diversos personagens é tão forte que trouxe à tona a presença do personagem Homem Aranha, fazendo alusão ao seu último filme que apresenta o MULTIVERSO, acredito que a inserção de tal ideia seja favorável pra espectadores que tenham consumido as obras do Herói, para que assim compreendam a referência.
É a segunda montagem do grupo na qual assisto e gosto da pegada de trazer obras clássicas integrando sua própria estética. O jogo cênico, a trama e diversas outras características apresentam uma identidade do grupo, mas acredito que ainda possam ir mais além. Com certeza, vou olhar para os vilões com mais humor do que terror, a partir de agora.
03 de novembro de 2022
[1] Graduando do Curso Superior
Tecnológico em Produção Cênica; Bolsista PIBIPA 2022;
Texto e Direção:
Ligia Coêlho
Produção:
Caixa de teatro
Coreografia:
Kauã Marques e Ligia Coêlho
Iluminação:
Sônia Lopes
Sonoplastia:
Lucas Jorge
Maquiagem:
Ligia Coêlho e Nelson Borges
Figurino:
Ligia Coêlho
Cenografia:
Ligia Coêlho
Leonardo Gabilanes
Ligia Coêlho
Lisadora coêlho
Renato Nascimento
Marlene Oliveira
Talita Souza
Pedro Ribeiro
Pedro Pantoja
Paulo lobo
Lavínia Almeida
Jade Braz
Wellen Ávila
Kauê kohen
Kauã Marques
Thiago Felipe
Jonathas André
Vinícius jiban
Marcele Félix
Luiza Alencar
Lana Bemmuy
Vânia Félix
Luciana Navegantes
Fernanda Oliveira
Fernanda navegantes