O que há por detrais do hospício as margens do rio de sangue? – Por David Almeida Francisco Houana
Montagem Teatral: "Batista em Corpo e Fúria"
Montagem: Grupo Palha
David Houana[1]
Geralmente, os assassinos em serie (Serial Killer) levam muito tempo orquestrando as suas incursões criminosas, mais vale um crime frustrado do que um crime sem requintes de crueldade e detalhes a escolha do autor. Amor, ódio, vingança, prazer ou mesmo poder, esses são alguns dos motivos usados como pretextos para cometer tais crimes, contudo o objetive deságua na chuva vermelhe cor de sangue, esses pretextos não são estáticos e a lista dos incentivos que estimulam os assassinos em serie é infinita. A história é conivente que esses freqüentemente padecem de problemas mentais, e de forma carinhosa os apelidamos "psicopatas".
O manicômio do museu em frente à cabana tem recebido várias criticas devido pelos métodos de tortura usados por eles. Com isso, o psiquiatra chefe, Dr. Paulo Roberto Furtado Santana, abriu as portas do seu hospício, com a finalidade de provar a integridade da sua casa e desmentir os horrores que cercam o hospício próximo a cabana. Fomos recebidos por uma percussão sonora de suspense e no mesmo momento, o jovem cabano e João Batista faziam movimentos aleatórios que nos faziam duvidar do gozo da sua saúde mental, foram eles que nos deram as boas-vindas. Em seguida foi nos apresentado um enfermeiro russo chamado Constantino Stanislavisk, e foi nos dito que o método terapêutico usado no hospício era o método naturalismo, desenvolvido pelo próprio enfermeiro russo.
Contudo, havia um internado chamado Berthold Brecht que se rebelava contra o método terapêutico naturalista do enfermeiro russo, ele fazia de tudo para tornar as coisas difíceis: a todo momento falava apenas do distanciamento e do estranhamento e para elucidar as suas palavras ele usou dos instrumentos de som para gerar um ruído bem grande para nos arrancar do ato catártico, isso tornou essa ação algo estranho bem distanciada de nós e despertou nossa atenção e nosso sentido crítico. Notou-se que ele escapou por um lapso da solitária. As suas incursões não paravam por aí, pois ele havia cimentado as suas idéias nas cabeças do João Batista e do jovem Cabano.
A casa estava lotada por jornalistas, curiosos e familiares dos doentes a que vinha registrar por seus olhos e ouvidos os argumentos do responsável pelo hospício, porém os malucos é que contavam a história.
O hospício tinha uma ótima decoração: o João Batista e o seu companheiro estavam bem-vestidos para o padrão normativo louco; as suas roupas eram sofisticadas e detalhadas; as suas cores eram como contraste, pois o Cabano estava de preto, que representava o mal e o João Batista vestido de branco, como se fosse um anjo do bem. Havia uma gaiola bem construída, porém, descompactada, isso porque a sua disposição no espaço fazia com que os curiosos sentados defronte à porta não ouvissem a explicação dos dois homens, e isso foi recorrente uma vez que constantemente o jovem Cabano engolia as palavras. Porém, entende-se, pois o grão da sua psicose o fazia ouvir vozes e via policiais que o perseguiam e o questionava se o que fazia era o certo; por vezes o seu corpo doía, então ele ia buscar bengalas sobre a parte superior da estrutura. Havia luzes, várias luzes no hospício, luzes que davam contrastes, por várias vezes davam encanto a cena, porém tiveram vezes que distraíram os apresentadores.
Aquela gaiola nos despertava a lembrar que o tempo que nos vivíamos não eram pacíficos. Ao que se dizia, o hospício foi fundado por Portugal colonizador e as palavras que João Batista tirava da sua boca eram polêmicas, porque faziam denúncias da perseguição que ele e os seus semelhantes passaram e passavam por defender os seus ideais de lutar por um bem comum, por isso que ele esta alí.
Atualmente o hospício está sobre a tutela duma entidade chamada o leviatã estatal. A primeira pessoa a denunciar os atos cruéis foi o antigo internado na clínica, o senhor Augusto Boal. O Dr. Paulo Santana preparou tudo aos detalhes, ele havia contratado um autor chamado Carlos Correia Santos, para construir um discurso coerente, ideológico e filosófico, o léxico era coerente. Porém a música escolhida, por vezes, não queria entrar nas nossas orelhas.
A estrutura tinha uma arma de fogo que nos mandava ficar atentos, a qualquer momento poderias ser atacado, havia também uma cruz no topo da estrutura fazendo alusão a devoção de João Batista a Deus.
As coisas começam a ficar cruéis e estranhas quando começou a chover cadáveres, fazendo-nos entrar por inteiros no purgatório, havia rios de sangue e os rumores se confirmaram. Após 41 minutos da turnê pelo hospício, havia chegado o momento final, estávamos todos tomados pela catarse a partir da crueldade e do encanto da ação.
28.08.2021
[1] Artista moçambicano, professor, pesquisador, estudante do curso de Licenciatura em Teatro, área da Dramaturgia e Encenação.
Ficha Técnica
"Batista em Corpo e Fúria"
Livre adaptação da obra "BATISTA" de Carlos Corrêa Santos
Com Stéfano Paixão no papel de Batista Campos
e Kesynho Houston no papel de índio, caboclo, soldado
Adaptação:
Stéfano Paixão e Paulo Santana
Direção e Encenação:
Paulo Santana
Sonoplastia e Visagismo
criada e executada por Nelson Borges
Visualidade:
Nelson Borges
Confecção de Figurino:
Ila Falcão
Adereços e Estandarte:
Marcele Engelke
Designe de luz:
Criado e operado por Malu Rabelo
Assessoria de Imprensa:
Leonardo Oliveira
Arte Gráfica:
Raphael Andrade
Fotografia:
Walda Marques
Produção:
Tania Santana
Realização:
Grupo de Teatro PALHA
Projeto realizado por meio da Emenda Parlamentar do deputado Edmilson Rodrigues. Belém Pará-2019-Ministerio da Educação - Pátria Amada Brasil - Governo Federal - PROEX - Pró-Reitora de Extensão \UFPA - FADESP - Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa.
Apoio Cultural:
Centro Cultural Atores em Cena/ Teatro Experimental do Pará "Waldemar Henrique" /Fundação Cultural do Estado do Pará/Ester Lanches.